A crítica comporta um Juízo estético e um compromisso ético.
O Juízo estético consiste na valorização individual da obra, por parte do crítico, dispondo de metodologia, e da sua capacidade analítica, sintética, sensibilidade, intuição e gosto.
O compromisso ético, relaciona-se com a melhoria social, o enriquecimento artístico que representa, e a defesa da adequação da obra aos seus fins.
Por tanto a crítica parte de um único individuo, que se propõe à compreensão da obra, para a explicar ao público, formando-a parte da vontade colectiva. No final retorna para a esfera subjectiva de cada individuo, já que o crítico é incapaz de interpretar completamente tudo.
Localiza-se:
Entre o excesso racionalista e metodológico e o excesso irracionalista.
Excesso racionalista e metodológico, em que acredita poder estabelecer interpretações completamente fiáveis, únicas e demonstráveis.
Excesso irracionalista, alega a inutilidade de qualquer crítica.
Entre os limites absurdos se situa o campo da interpretação.
Os inícios da Crítica
Iniciam-se na segunda metade do século XVIII, com o iluminismo, e o movimento Neoclássico, que provocou uma total transformação do gosto e métodos de criação e interpretação das artes, arquitectura e cidades.
Ao mesmo tempo, deu-se início da estética, arqueologia, e surgiram os primeiros museus públicos.
Inicialmente centrou-se muito no espírito crítico de Immanuel Kant, e nas reflexões de Denis Diderot e Francisco Miliza.
É a partir do movimento moderno que a actividade assume um papel mais relevante. A ruptura com o existente, e a defesa da arte abstracta e de uma nova arquitectura (racionalista, funcionalista, social, e avançada tecnologicamente) requeriam uma teoria, crítica e historiografia que acompanhassem a difusão da obra de arte e da arquitectura até hoje.
O ensaio como técnica da Crítica
O ensaio consiste numa reflexão aberta e inacabada que parte da dúvida, entendendo a cultura e a arte como um todo, entrecruzando referências de diversos campos da cultura.
No ensaio, ”todas as ideias são filhas da dúvida” (José Ortega), e qualquer resolução não pretende ser definitiva, devendo assim, estar é sempre aberta à transformação e à continuidade.
Matéria e técnicas da Crítica
A crítica caracteriza-se pela emissão de um juízo, que se desenrola em proximidade com a teoria, estética e história.
De amplo sentido cultural, a sua missão é de interpretar, contextualizar, uma hermenêutica que desvela origens, relações, significados e essências.
Na arquitectura, o juízo se estabelece de acordo com as finalidades alcançadas:
Funcionalidade distributiva e social
Beleza, e a expressão de símbolos e significados
O uso adequado dos materiais e técnicas
Relação com o contexto urbano, o lugar e o meio ambiente
Condições básicas para a Crítica:
Só existe crítica quando existe uma teoria.
A crítica, necessita de uma base teórica, de onde deduzir os juízos, que sustentam as interpretações. Ao mesmo tempo a teoria necessita da experiência, de pôr-se à prova e da actividade da crítica.
O mesmo é dizer, toda a crítica é posta em prática pela teoria, na qual compreende um valor amplamente cultural da crítica.
A segunda visão é menos evidente.
Só existe crítica, quando existem visões contraditórias, uma diversidade de possibilidades.
Para este campo de análise a crítica surge do confronto de possibilidades, o neoclássico contra o barroco, o pensamento ilustrado contra o academismo. A crítica surge definitivamente da diversidade de interpretações, do pluralismo que gera as crises do mundo unitário da tradição clássica. A crítica e o ecletismo vão de mãos dadas.
O trabalho da crítica, como da filosofia, parte da dúvida e da indignação, devendo aceitar as transformações e os erros.
Os espaços da Crítica
O lugar da crítica é a própria obra arquitectónica, recorrendo dos seus espaços, e valorizando a realidade material dentro da envolvência e da cidade.
Esta forte relação entre o crítico e a obra, contribui a distanciar-se dos rigores do método e a assumir um carácter mais subjectivo.
Os contextos da Crítica
A crítica procura desenvolver-se em locais que ofereçam condições políticas, metodológicas e mediáticas.
As situações políticas, relacionam-se com a liberdade de expressão, estando por isso ligadas ao tipo de regime instalado (preferencialmente democrático), e a localização geográfica.
As metodológicas, caracterizam-se pela valorização de um método contínuo de análise, em oposição ao culto dos génios.
Para eles é impossível, haver uma tradição sólida no campo da crítica sem um laborioso e largo trabalho de acumulação de conhecimentos.
A última razão prende-se com os sistemas mediáticos, em que a crítica floresce nos lugares, em que os canais de difusão permitem existir, transmitir-se, ter um mercado.
Os limites da Crítica
Anos sessenta:
Nos anos sessenta considerava-se que a arte procurava fundir-se e interagir com a vida, e a crítica tornar-se-ia supérfula, iniciando-se um processo de descrédito da crítica.
O excesso de interpretações acabaram por envenenar, domesticar e reduzir a complexidade das obras.
Por um lado Sontag considera importante que se fomente uma cultura ainda mais próxima, ver, ouvir e sentir mais a obra, procurando não iludir.
Steiner e Josep Quetglas e Ramon Gaya, são contra a poluição da crítica defendendo que o importante é a obra de arte, e a crítica não têm qualquer sentido.
Actualidade:
Na realidade, têm ido noutro sentido, e a teoria tem servido como guia e interpretação das últimas correntes, como as instalações, o minimalismo, têm exigido em maior medida as explicações dos autores e críticos, para que tornem visível as intenções de cada obra.
O problema actual que enfrenta, é o vocabulário caduco de análise, muito ligado a convenções linguísticas aproximadas e problemáticas, e conceitos como figurativo abstracto, excessivamente ambíguos.
A crítica contemporânea sustenta-se assim por tópico inamovíveis, dos quais deveria desconfiar, a abstracção já se converteu em academia, e a renovação surge pelo campo da figuração.
Deve portanto aceitar-se a abstracção e a figuração como complementares, e não antagónicas ou irreconciliáveis.
O realismo, identifica-se com uma posição de repetição, distanciamento e conservador.
A abstracção surge culturalmente de um medo da realidade, podendo chegar a converter-se num instrumento de alienação.
Até que ponto é certo que a metrópole é o contexto exclusivo para o progresso cultural, e das vanguardas artísticas?
Por cada crise do maquinismo, sucede uma nova procura da sensibilidade organicista. No limite a metrópole, como a abstracção, pode chegar a ser o cenário da alienação absoluta.
Os objectivos básicos da Crítica
Como realizar o trabalho da crítica, dentro desta pluralidade de posições e interpretações?
Actualmente, enfrenta diversos inimigos, o esquecimento que predomina a sociedade contemporânea, numa sociedade tardo capitalista, em que a arte é um produto de consumo.
Desta maneira, o trabalho da crítica consiste em desvendar as raízes e antecedentes, as teorias, posições, métodos, que estão implícitos no objectos.
A crítica, pode ser ilimitada, dirigindo-se para o passado e presente.
Procura estabelecer interpretações multidisciplinares, que quebrem as barreiras do profissionalismo e a especialização que limitam a prática artística.
A crítica não deve analisar apenas as interpretações gerais, mas também aprofundar-se em análises formais. As características espaciais, a relação entre a lógica estrutural e a composição, as linguagens e os materiais utilizados, devem ser padrões essências do juízo. Isto significa que não se deve assumir uma postura dogmática, externa ao objecto, mas que se deve entrar na sua substância.
Uma obra é uma criatura viva, e vivida; uma peça que cada geração verá e interpretará de maneira distinta.
A melhor crítica, é portanto, a que concilia as considerações sobre o conteúdo com as considerações sobre a forma.
A crítica, deve valorizar todas as obras de grande expressão das necessidades colectivas, sem esquecer que toda a construção surge num contexto social, político e económico.
O papel do crítico, ainda assim nunca deve esgotar todas as hipóteses de entender e interpretar.
Análise de Colin Rowe, baseada em critérios tipológicos, compositivos ou construtivos
Transparência literal e fenomenológica
Edifícios Sandwich e edifícios Megarón
Simetria – Assimetria
Centralidade – dispersão
Espaço e anti espaço
Isotropia e Anisotropia
Diferenciar os espaços configurados pelas superfícies do solo e telhados, e aqueles que estão configurados essencialmente por muros.
Como a estrutura arquitectónica se relaciona com as questões compositivas e espaciais
Verificar na estrutura urbana, o predomínio do cheio e do vazio,
A articulação ou autonomia do objecto
Crítica e obra de criação
A relação entre a crítica e a obra de criação, é poética, podendo recorrer da metáfora, descobrir sintonias e comparações.
Como argumenta Steiner, a critica tem um papel secundário da obra de arte, mas ao mesmo tempo participa da mesma liberdade. Ainda assim ele entende juntamente com T.S.Elliot que “ a obra de criação constitui no fundo, a mais elevada actividade critica. Todo o artista é acima de tudo um rigoroso crítico ”.
Elliot, afirma que um criador é superior a outro apenas porque a sua capacidade crítica é superior.
Ferrater Mora, reforça a ideia considerando que não são aqueles que procuram invalidar o passado, superando-o que propõem as grandes inovações, mas quem está no passado enraizado, sobrepondo-se assim as novas acções, concordando com o existente, apenas parecia estar implícito, necessitando apenas que se desenrola-se.
Teoria e Crítica
Não existe crítica, sem teoria, porém também não faz sentido teoria sem a crítica, tornando-se numa meta linguagem sem sentido.
A história da crítica encontra-se nos textos da teóricos como na posição que cada obra assume em relação as anteriores.
Devemos por isso compreender que crítica, teoria e historia, apesar de utilizarem métodos distintos, e terem objectivos próprios, servem-se das mesmas fontes, sendo inseparáveis.
Porém, não são apenas estas três áreas, mas ao situar-se a arquitectura no campo das artes e da técnica, a linguagem e interpretação, estão sempre relacionados com as da arte, ciência e pensamento.
Portanto a crítica de arquitectura consiste em estabelecer pontes em dois sentidos:
o mundo das ideias e conceitos, procedentes do campo da filosofia e teoria.
o mundo das formas, dos objectos e das criações artísticas.
Assim, a missão da crítica não consiste apenas em teorizar nem em analisar a obra, mas também em reconduzir estes fluxos contínuos entre teoria e criação, dos mundos que não podem entender-se separadamente.
In Teoria y Crítica; Josep Maria Montaner
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