Excerto de uma entrevista a Juhani Pallasma de 12 de Agosto de 2006, no suplemento Babelia do El País. Toda a entrevista pode ser acompanha a partir do link das Entrevistas, Juhani Pallasma . Viver Cidades
Anatxu Zabalbeascoa: Neste livro, o Sr. tacha de 'narcisistas' e 'niilistas' muitos dos ícones arquitetônicos celebrados pela crítica. É isto o que pensa da arquitetura contemporânea ?
Juhani Pallasmaa: Sim. A arquitetura atual tende a ser 'retiniana', pois se dirige aos olhos; é 'narcisista' porque coloca a ênfase no arquiteto, no indivíduo; e é 'niilista' porque não fortalece as estruturas culturais; ao contrário, as aniquila. Hoje, um pequeno grupo de arquitetos constrói em todo o mundo, e os mesmos edifícios estão em toda parte. Assim, é difícil que a Arquitetura possa reforçar alguma ou qualquer cultura.
Zabalbeascoa: O Sr. considera que a 'arquitetura de ícones' não possui nenhum componente social ? Os monumentos não singularizam as cidades ?
Pallasmaa: Creio que a idéia de um monumento referencial está sendo muito explorada hoje. De tal modo que serviria para justificar qualquer 'proeza'. Mas temo que este tipo de Arquitetura serve a fins muito egocêntricos e limitados, ao contrário de uma Arquitetura que se ancore [ancle] nos seres humanos do mundo, ao invés de impor sua presença. A Arquitetura de hoje se descuidou dos sentidos, mas não é só isso que explica sua desumanidade [inhumanidad]. Ela não é feita para as pessoas. Tem outros objetivos, alheios ao uso pelos cidadãos. De tal modo que a Arquitetura se tornou uma arte visual. E, por definição, a visão te exclui do que estás vendo. Vê-se desde fora, enquanto que a audição envolve-te no mundo acústico. Nesta linha de raciocínio, a Arquitetura deveria envolver através da tridimensionalidade. O tato nos aproxima do tocado. Por isso, uma arquitetura que enfatiza a visão nos deixa 'fora de campo'.
Zabalbeascoa: Existe um responsável pelo fato dos edifícios serem hoje produtos visuais ?
Pallasmaa: Isto é uma conseqüência da 'comercialização' do mundo: tudo é negócio. E também resulta da 'velocidade' do mundo: tudo tem que ser rápido e instantâneo [al momento]. Ademais, há um 'excesso', de todas as coisas [hay demasiado de todo]. Sobretudo de 'informação'. Se quiseres angariar atenção, tens que falar alto. Isto explica o tipo de arquitetura que temos, em contraposição às catedrais: elas contrastavam com o mundo, mas convidavam a um encontro íntimo.
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Pallasmaa: Acho que isto se deve à tradição luterana da minha formação. Sem ser religioso, sou nórdico. Venho de uma cultura restritiva, que não nos incita a destacar-se do todo. Nela, 'o melhor' é 'o que pertence ao grupo', pela atitude, pelo comportamento ou pelo aspecto. Assim, o maior elogio que se pode fazer a um arquiteto finlandês é comentar que se 'comporta bem', não que 'se destaca'.
Olha que é bem verdade o que este senhor diz... Eu espero que a arquitectura não vá toda por esse caminho... que se "salve"... Eu sempre fui contra a arquitectura ser uma arte visual apenas, e quase excluir os seus objectivos principais, a vivência do homem no seu interior, o ser cómodo e útil para o homem. E realmente a "arquitectura + cultura de cada local" está a dsaparecer...
ReplyDeleteMas... vá lá! Esperança! LOL! ;P
Temos que resolver as coisas...
Bjs,
DreamSpaces Girl